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quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Contexto

A importância do contexto.

Muitas vezes pegamos uma conversa pela metade e não entendemos bem do que se trata, ou ainda imaginamos tratar-se de algum assunto e, ao nos situarmos, notamos que o sentido levava a outra direção. A isso chamamos de ‘contexto’. Trocando em miúdos, o contexto, segundo a Wikipédia, é a relação entre o texto e a situação em que ele ocorre. É o conjunto de circunstâncias em que se produz a mensagem que se deseja emitir e que permitem sua correta compreensão. Pensando nisso, selecionei a letra da música ‘Por você’, composta pelo Frejat para demonstrar como o contexto faz diferença. Certamente o compositor tinha a intenção de dizer que faria tudo pela mulher amada, no sentido de ‘por você eu faria tudo isso’. Deem uma olhada na letra considerando essa perspectiva: 

Por Você 
     (Frejat) 

Por você eu dançaria tango no teto, 
Eu limparia os trilhos do metrô, 
Eu iria a pé do Rio a Salvador... 
Eu aceitaria a vida como ela é, 
Viajaria a prazo pro inferno, 
Eu tomaria banho gelado no inverno. 
Por você... 
Eu deixaria de beber, 
Por você... 
Eu ficaria rico num mês, 
Eu dormiria de meia pra virar burguês. 
Eu mudaria até o meu nome, 
Eu viveria em greve de fome, 
Desejaria todo o dia a mesma mulher... 
Por você... Por você... Por você... Por você... 
Por você, Conseguiria até ficar alegre, 
Pintaria todo o céu de vermelho, 
Eu teria mais herdeiros que um coelho. 
Eu aceitaria a vida como ela é, 
Viajaria a prazo pro inferno, 
Eu tomaria banho gelado no inverno. 
Eu mudaria até o meu nome, 
Eu viveria em greve de fome, 
Desejaria todo o dia a mesma mulher. 
Por você... Por você... Por você... Por você... (...) 

 Romântico, não? Agora, releia a mesma letra da música, mas considere que se trata de uma briga de casal e ele está acusando a mulher de querer algum mal a ele. Para isso, basta imaginar que antes ele diz algo como: ‘se fosse deixar por sua conta ou, se dependesse da sua vontade..." Interessante como o contexto pode fazer toda a diferença, né? Considerá-lo pode nos ajudar a ajustar melhor nosso discurso, seja ele escrito ou falado. Além do mais, conhecê-lo pode evitar um tremendo mal entendido.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Dicas de leitura

Estes quadrinhos foram extraídos do livro Persépolis, uma autobiografia de Marjane Satrapi. Trata-se de uma mulher que narra a sua história contextualizando-a com o cenário político-social da Revolução Iraniana. Esta tirinha retrata a época em que as mulheres foram forçadas a usar o véu e a se vestir de modo “apropriado” aos olhos do governo iraniano. A fiscalização, entre outras maneiras, era realizada pelas “guardiãs da revolução” que prendiam as mulheres que não usavam o véu adequadamente. Marjane, assim como as mulheres de sua família, não concordava com o uso do véu e não gostava da ideia de suas escolhas serem cerceadas pelo governo. Então, usava o véu, mas não abria mão de outras escolhas. As cenas das tirinhas são, em sua essência, bastante repressoras. Contudo, muito embora reconheçamos a gravidade da situação, a linguagem dos quadrinhos ameniza tal drama e permite com que achemos graça da maneira como a garotinha luta argumentativamente para não ser presa pelas guardiãs. Isso é possível pela articulação dos elementos verbais e não verbais, lidando com aspectos visuais e lingüísticos, permitindo ampliar as possibilidades de interpretação e de recepção pelo interlocutor (nós!). Fica a dica para o livro: Satrapi, Marjori (1969). Persépolis. Tradução Paulo Werneck - São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Interpretação de textos

Não é raro ouvir por aí que interpretar texto é algo muito subjetivo, que não há interpretação errada. Não é bem assim: a subjetividade e o contexto podem e devem, sempre que possível, ser investigados. Precisamos ficar atentos para a intenção contida no texto. Para isso, antes mesmo de partir para a análise das minúcias textuais (conjunções aditivas, adversativas, por exemplo), devemos nos ater a indícios mais gerais. Aí vão quatro dicas básicas para interpretar um texto, sobretudo de concursos e provas:

1) Leia todo o texto e tente compreender a ideia principal (sobre o que é o texto? Qual é o tema principal?).
2) Normalmente os textos acompanham sua referência bibliográfica e elas podem ser grandes aliadas para compreendermos melhor o contexto. Podemos considerar o autor (Quem é ele? Escreve que tipo de texto?), a época e o local em que escreveu. Se não conhecemos o autor, podemos inferir alguns dados que podem nos ajudar a contextualizar os fatos (se escreveu em um jornal ou em uma revista, por exemplo, deve ter alguma coisa a ver com a data; se é um poema ou uma música, podemos verificar o ano em que foi produzido e tentar recuperar historicamente o que era importante naquela época etc).
3) Tente compreender a argumentação do autor, independente da sua opinião, como leitor, sobre o assunto (refletir sobre o assunto é muito importante se depois for solicitado para fazer uma redação sobre ele. Contudo, em testes de múltiplas escolhas, é comum usar opinião contrária ao do autor como uma ‘pegadinha’. De qualquer maneira, tanto em um caso como em outro, é importante identificar a opinião do AUTOR e tratá-la com um certo distanciamento).
4) Dê uma olhada nas questões sobre o texto e use-as como um roteiro para uma releitura, tentando focar o que é perguntado.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Cuidado com a vírgula!!

Olhem só que interessante este vídeo feito pela ABI (Associação Brasileira de Imprensa) em 2008, em comemoração de seus 100 anos.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Você já “travou” na hora de escrever?

Imaginem as seguintes situações:
Situação 1
O sujeito se prepara o ano inteiro para uma prova (vestibular ou Enem, por exemplo) e quando se depara com o tão esperado momento, não consegue fazer a redação. Não faz a mínima ideia do que estão solicitando como tema, não sabe como começar e, muito menos, como terminar. Fica completamente “travado*”. O que fazer?
Situação 2
O sujeito vai para uma entrevista de emprego, consegue passar por várias etapas da seleção e, já no final, pedem para ele redigir algo sobre a área a ser trabalhada ou, pior, sobre “tema livre”. Ele, que até então estava tão confiante, “trava”! Não imagina como escrever sobre o que está sendo solicitado. E agora?
Situação 3
O sujeito trabalha em uma empresa há anos. Presta inúmeros concursos internos, mas sempre ‘trava’ na hora da redação e não consegue entender o motivo, já que se considera um conhecedor da estrutura da língua portuguesa. O que fazer para almejar o que ele deseja?

Puxa, que complicação, não?  Certamente, nas três situações o nervosismo, a ansiedade e a expectativa excessiva contribuíram muito para que os sujeitos ‘travassem’ diante de tal solicitação. Mas o que eles poderiam fazer a respeito em um momento tão decisivo?  Desistir? Escrever qualquer coisa?
Isso já aconteceu com você? Se quiser, pode compartilhar conosco! O que você acha que poderia ser feito para minimizar tal transtorno?
  

*Comumente as pessoas usam o verbo travar com a intenção de dizer que ficaram sem ação, sem ter como agir naquele momento.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Análise de propaganda



Bem bacana esse vídeo, não é?  Escolhi-o para analisar porque ele traz informações implícitas interessantes, além da relação verbal e não-verbal .
No começo o narrador pergunta “O que é que a gente veio fazer aqui?”, com uma entonação de como se tivesse dando continuidade a um diálogo já iniciado. A narração começa seu dizer a partir do que considera que seria a pergunta de seu interlocutor e, partindo deste ponto, tenta responder* a indagação dando alguns indícios. Vamos a eles.
Em relação aos aspectos verbais, há três informações implícitas no texto deste vídeo. Duas delas são possíveis de detectar no próprio texto, quais sejam:
1) a de que “eles” são experientes no que fazem: esta justificativa aparece em dois momentos. O primeiro é quando diz que “veio fazer o que já fazia” e o segundo é quando diz que “a gente veio porque sabia o caminho”. Ora se eles “já faziam” e “já conheciam a trilha a ser seguida”, é porque tinham experiência no que estão se propondo a fazer. Refiro-me à experiência, pois me parece ser o termo mais adequado para demonstrar que são conhecedores do que fazem.
2) a de que possuem um diferencial: dizem que vieram “mostrar de um outro jeito”, então não é exatamente como os outros fazem, passando a idéia de que usam o que sabem para propor algo novo.  
Percebam como utilizam as duas informações: usam uma (a experiência) para nos levar à outra (o diferencial). Notem que, mesmo em um texto pequeno, existe uma progressão textual presente, o que nos faz acompanhar um raciocínio e nos permite atingir ou chegar muito perto da intenção da produção textual (portanto, de uma interpretação adequada).   
A terceira informação, não perceptível no texto, é sobre o que, de fato, eles fazem. O que será? Será que a dúvida era a intenção do vídeo? Tenho a impressão que sim.
Em relação ao não-verbal, vocês perceberam como está complementando o verbal? Delicadamente ele agrega mais sentidos ao que tem a intenção de anunciar. Podemos dizer que nas imagens estão disponibilizadas as seguintes relações:
O garoto com a bicicleta é a empresa anunciante que traz uma alternativa para circular na mesma via que os carros, seus concorrentes. Essa alternativa modifica a paisagem, enquanto os automóveis continuam parados. Após a bicicleta percorrer o caminho, aparece o nome da empresa (Mulatopolaco) em uma placa que derruba os carros (ou seja, a empresa derruba seus concorrentes).
Temos uma linguagem audiovisual mobilizando recursos para construir um sentido. Na linguagem escrita temos um cenário bastante parecido, pois ela também recorre a vários recursos para informar, esclarecer, convencer e construir sentidos: alusões, conhecimentos socialmente compartilhados, subentendidos, formas narrativas ou argumentativas etc. Na Linguística Textual esses recursos são agrupados por categorias, tais como estratégias cognitivas, sócio-interacionais e textuais. Falarei sobre isso em um próximo post.  

 * “Tenta responder”, pois  não responde de fato. Diz o motivo pelo qual veio (“porque sabia o caminho), mas não responde exatamente “o que veio fazer aqui” (diz que veio fazer o que já sabia, mas não diz o que é). Parece ser uma estratégia para aguçar a curiosidade do interlocutor.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Reformulação textual

Aconteceu um fato bastante inusitado ao formatar este blog. Imaginem vocês que escrevi um texto bem maior para publicar em sua descrição (aquele textinho que está logo abaixo do título), contudo no momento em que fui publicá-lo havia uma exigência de "até 500 caracteres". Sendo assim, já  tive que começar a fazer o que este blog se propõe. Então, objetivei minha mensagem, alterei pontuações e palavras para que conseguisse manter minimamente o sentido que eu gostaria de dar.
Para vocês verem como isso acontece o tempo todo!
Segue abaixo o texto na íntegra:

Escrever é mais do que colocar palavras interligadas em um papel. É também transmitir ideias e construir sentidos. Um texto bem escrito – e não necessariamente sofisticado – suscita reflexões, remete-nos a algo, passa a ter uma dimensão expressiva própria. E é isso que busco estimular aqui. 
O nome ‘Artesanato Textual’ alude ao sentido do trabalho manual, do cuidado que o artesão tem com cada fabricação sua. Ao pensarmos em texto, pensamos em uma produção que vai se tornando clara na medida em que é construída, do mesmo modo que a obra do artesão é modificada e vai caminhando para a sua forma final a cada empenho dele.
Muitas vezes olhamos um tapete e o achamos bonito, mas não sabemos ou conhecemos como foi feito. Então, se o virarmos e olharmos para o seu avesso, possivelmente conseguiremos perceber como a trama de suas linhas estão entrelaçadas e, finalmente, conseguiremos compreender, ou pelo menos inferir, o modo como foi produzido. Assim também é com o texto: muitas vezes precisamos olhá-lo pelo avesso para compreendê-lo. Essa ação representa a curiosidade que nos torna cada vez mais conhecedores dele. Esse conhecimento nos torna cada vez mais capazes de produzir textos mais legítimos, de escolher ou rejeitar um vocábulo, de brincar com as pontuações tornando a produção mais enriquecida etc. 
Sendo assim, convido você a fazer parte da construção desta obra que depende do nosso empenho e dedicação para que conheçamos as “tramas do avesso” de um texto.